RIO — Ana Cecília Costa não consegue ser imparcial ao falar de Gaia, sua personagem em “Joia rara”:
— Eu torço para que a família se recomponha, acho que a Gaia merece. É uma mulher que nadou, nadou, engoliu água, botou a mão em terra firme, e essa terra despencou.
A atriz se refere ao fato de a personagem lituana, militante da causa operária, voltar ao Brasil com o fim da Segunda Guerra Mundial, após passar dez anos em um campo de concentração, e se deparar com uma realidade árida: Gaia encontrou seu marido, Toni (Thiago Lacerda), casado com Hilda (Luiza Valdetaro) e soube que seu filho estava desaparecido.
Na trama, o ex-casal já descobriu o paradeiro do menino: ele é Tavinho (Xande Valois), adotado por Laura (Claudia Ohana) e Valter (Leopoldo Pacheco). Agora, os dois tentarão recuperar a guarda do criança.
— A cumplicidade dos pais pela emoção de reencontrar o filho está os aproximando, deixa um clima de amor no ar, mas ainda sem teor romântico, isso está em aberto — afirma.
Gaia exigiu total dedicação da atriz de 42 anos. Ana Cecília abriu mão do cabelão que usava há anos, de cinco quilos e, ainda, da vida social:
— Durante os dois meses em que estive afastada da novela, eu fiz questão de não conversar com os meus amigos, para que eu ficasse um pouco nessa condição de exílio. Queria que eles sentissem saudades de mim e queria sentir saudades dele.
Esse foi apenas parte do processo de composição da personagem, ela conta:
— Muita gente não sabe o que é um campo de concentração e, na novela, em nenhum momento o público viu o que aconteceu com a personagem. Então, eu precisava vir com um físico e um emocional que tivessem essas marcas todas impressas. Por isso, fiz questão de estudar o holocausto, ler livros como “O diário de Anne Frank", “Manifesto comunista" e de ver filmes como “O pianista” e “A lista de Schindler”.
Ana Cecília diz que preferiu não rever as cenas após a reaparição de Gaia:
— Não queria que nenhum tipo de vaidade perturbasse o meu trabalho. Eu estava detonada, com olheiras, magra, mas sabia que aquilo era importante naquele momento e queria que o meu trabalho fosse muito de entrega, generoso, não poderia ter senso crítico ou estético.
Tamanho empenho se deve à noção de que Gaia “tem uma dimensão política muito forte".
— Para mim, é uma honra e uma responsabilidade muito grandes interpretar essa personagem pelo tema que estamos abordando. A maioria dos brasileiros não vai ao teatro, ao cinema, mas vê novelas. Então, como artista, procuro dar o melhor de mim. E as pessoas têm me abordado nas ruas para falar o quanto se emocionam com as cenas da Gaia, não apenas porque eu apareço na televisão, o que me deixa muito gratificada — destaca Ana.
Baiana de Jequié, Ana Cecília se mudou aos 7 anos para Salvador com a família. Decidida a seguir carreira de atriz, aos 19, veio morar no Rio de Janeiro, onde acabou fazendo faculdade de Cinema. E foi o cinema que a levou, aos 28 anos, para a Alemanha, onde viveu por um ano e meio e trabalhou como assistente de direção e de montagem. De volta ao Brasil, se estabeleceu em São Paulo, onde fez novelas no SBT e na Band. Após papéis menores em produções da Globo, ela se destacou como a Virtuosa Bezerra de “Cordel encantado” (2011), que lhe rendeu o convite para “Joia rara”, também das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid. Ana Cecília ainda está no elenco da série “A teia”, com estreia prevista para 28 de janeiro, e do filme “Jonas e a baleia”, que deve chegar às telas este ano:
— Em qualquer lugar do mundo, e falo isso porque circulei e tenho amigos artistas de outros países, é um privilégio viver e conseguir pagar suas contas como artista. Isso está acontecendo com a minha vida agora, e eu desejo profundamente que continue assim.
Fonte: O Globo
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