Na estreia, anteontem no GNT, “Amor Verissimo” tratou daquele exclusivismo que rege as turmas fechadas. O episódio girou em torno de Amanda (Luana Piovani), namorada do personagem de Marcelo Faria. Ele apresentou a moça aos amigos do peito numa mesa de bar. Ela é linda, “simpática, simples, ainda por cima tem conteúdo”. Prova disso é que já chegou explicando “como eram as cadeiras no século XIV”. Tal congregação de qualidades caiu como uma bomba entre as mulheres e, pior, atraiu os homens, fazendo crescer assim a potência da inveja feminina. A maledicência correu solta, sempre desmontada pela simpatia de Amanda.
A série de título inspirado, produzida pela Conspiração e dirigida por Arthur Fontes, é uma adaptação de Renato Fagundes para textos de Luis Fernando Verissimo. O programa corre dividido em duas narrativas. A primeira, a ação encenada; a outra mostra depoimentos dados individualmente por atores sentados num sofá. A dramaturgia é muito mais atraente do que as frases feitas e pueris ditas em sequências que lembram aqueles velhos anúncios da geladeira Brastemp. É um recurso surrado que serve a sublinhar e explicar a ação. No caso dos reality shows pode colaborar para a compreensão daquilo que ficou obscuro e que não pode ser recomposto porque é realidade. Na ficção, não faz sentido e só serve para prejudicar o ritmo do todo.
Apesar dessa ressalva, no geral, o primeiro episódio divertiu e teve um desfecho surpreendente. Além disso, Marcelo Faria e Luana Piovani se saíram bem, assim como Fernanda Paes Leme, Gabriela Duarte, Letícia Colin, Paulo Tiefenthaler e Pedro Monteiro. No segundo programa, o grupo se reúne para relembrar os tempos da faculdade e reforçar a certeza de que isso pode ser uma má ideia. De novo, Letícia Colin e Gabriela Duarte se destacaram.
A produção aborda, com humor cítrico, os sentimentos que a máscara social procura ocultar, mas são generalizados entre a Humanidade. São crônicas do cotidiano e por isso naturalmente vocacionadas para a empatia instantânea. Impossível, no entanto, assistir a “Amor Verissimo” e não lembrar de “A comédia da vida privada”. A série foi ao ar na Globo nos anos 1990, com o escritor no time de roteiristas, que contava ainda com Guel Arraes, Jorge Furtado e Pedro Cardoso. Ela está no ar atualmente no Viva. É aparentada da produção do GNT: tratava de situações prosaicas e extraía grandes sensações de pequenos acontecimentos. Mas tinha outra musculatura. A diferença é o investimento. “Amor Verissimo”, fruto dessa explosão de programas produzidos com recursos do Fundo Setorial, trabalha com menos recursos. Isso tem reflexos no ar: poucos cenários, caracterizações pobres e uma certa impressão de improviso. Esse ponto merece uma reflexão.
No geral, entretanto, a série do GNT diverte e distrai, seu propósito principal. Só não promete marcar a TV como fez “A comédia da vida privada”.
Patrícia Kogut
Espero que gostem.
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