sábado, 24 de dezembro de 2011

Coluna: Começo Arrasador (retirado da Revista Veja)

Malu Mader (esquerda) e Antônio Fagundes (direita) como Márcia e Felipe.
Foi um jogo daquelas cenas empolgantes, cheio de lances impossíveis que consagraram o verdadeiro gol de placa. Na noite de quinta-feira (23 de maio) - quando a galera pode enfim comemorar diante da TV - o tabu da virgindade deixou o campo de cabeça baixa, derrotado por um plantel de conspirações sórdidas que entrou no ar com o apoio de milhões de brasileiros ligados na tela da Globo. Desde as 20h30 da segunda-feira passada (20 de maio), quando os acordes de Tom Jobim anunciaram a estreia de O Dono do Mundo, o país se posicionou do lado da arquibancada que apostava na tática do cirurgião plástico Felipe (Antônio Fagundes)  para driblar a noite de núpcias da professorinha Márcia (Malu Mader) e atingir o objetivo pós-matrimonial antes do próprio noivo, o inocente técnico de computadores Walter (Tadeu Aguiar). Felipe e Márcia se engalfinharam em pêlo no final do capítulo de quinta-feira (23 de maio) e o delírio do telespectador se prolongou até as primeiras cenas amorosas que abriram a novela na sexta-feira (24 de maio). Não houve queima de fogos nem torcida uniformizada, mas não se via entusiasmo igual desde a final da Copa do Mundo de 1970, no México.
O pop-escândalo aconteceu no aconchego de um chalé no Canadá e fugiu ao controle de Gilberto Braga, autor da novela. "A questão da virgindade não tinha grande importância quando escrevi o script, era só um charme novelesco para enfatizar o mau-caratismo do protagonista", disse Braga a VEJA na quarta-feira (29 de maio), ainda perplexo com a repercussão de sua história. "Não tenho consciência de nada disso. Eu trabalho na base da intuição." Pode ser. O certo é que Gilberto Braga fez renascer na semana passada as esperanças da Rede Globo em reagrupar a família brasileira em torno de um só canal de TV no horário das 8, quando o mesmo Braga transformou Vale Tudo numa espécie de mania nacional. Se voltar a dar certo com O Dono do Mundo - sua décima-terceira novela -, o autor vai levar a fama de ser o único bem-dotado da TV com vigor suficiente para dar 80, 90 pontos no Ibope, sem sair de cima do conflito pobre versus rico que vem imprimindo a seus trabalhos. O Dono do Mundo herdou de sua antecessora, Meu Bem Meu Mal, uma colocação na faixa dos 50 pontos de audiência e tem oito meses pela frente para recuperar o velho prestígio das novelas globais.

"Nós Sentimos Violados" - "O Gilberto inventou um petardo logo no início da novela e está diante do desafio de manter esse ritmo até dezembro", analisa Fernanda Montenegro, a magistral cafetina de luxo que passeia pelos cenários milionários de O Dono do Mundo. Fernanda percebeu logo nos primeiros capítulos por que o público ficou do lado de um personagem que para satisfazer seus caprichos sexuais desencadeia uma sequencia de truques amorais que culmina com o suborno de sua própria mãe, encarregada de manter, a troco de 500 dólares, a nora Stella (Glória Pires) bem longe da locadora adúltero-canadense. "O Gilberto desenhou um personagem que é mocinho e bandido ao mesmo tempo", diz Fernanda. Uma dualidade que, segundo Antônio Fagundes, é sinal dos tempos. "O mau-caratismo se aprimorou muito nos últimos anos", afirma.

Fonte: VEJA, 29 maio 1991.

Espero que gostem.
ME

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