quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Coluna: Macaquices e Trapalhadas



Com uma história frouxa e um elenco mal escalado, Mico Preto afunda o horário das 7 da Globo.


Quando o surfista boboca de Nuno Leal Maia e sua trupe de crianças bonitinhas e chatinhas se aposentaram do horário das 7 da Rede Globo, com o fim de Top Model, há um mês, os telespectadores comemoraram a passagem triunfal da novela ao esquecimento e torceram para que uma produção caprichada a sucedesse. Afinal, suas duas antecessoras, Bebê a Bordo e principalmente Que Rei Sou Eu? foram sucessos que, na melhor tradição das novelas, viraram temas de conversas e até de discussões políticas em todo o país. Nas últimas semanas, à medida que os primeiros capítulos de Mico Preto, a substituta de Top Model, ganharam o vídeo, reforçou-se a impressão de que o horário das 7 os baratos deram lugar às baratas. Mico Preto é uma das piores coisas já mostradas pela televisão desde que ela aportou no Brasil no anos 50, uma novela com personagens sem pé nem cabeça ou inadequados para o horário, com uma trama que consegue ser mais frouxa que as de Top Model e O Salvador da Pátria juntas e atores que parecem tão apropriados aos papeis quanto Renato Aragão na pele de Henrique V, de Shakespeare - a sério.
Mico Preto pretende ser uma comédia, mas é duro achar graça em suas cenas. Liga-se o televisor e lá está Glória Pires, a atriz mais talentosa surgida na televisão, em seu primeiro naufrágio no vídeo. Ela é Sarita, uma pobretona que engana o noivo dizendo que trabalha como acompanhante de doentes enquanto ganha a vida entretendo os fregueses de uma boate suspeita. Muitas Saritas podem ser encontradas nas grandes cidades do país, com perfis dramáticos ou engraçados, mas a de Glória Pires é apenas vulgar, forçada, espantosamente feia e - defeito dos defeitos - uma chata de doer. Seu noivo é Firmino - Luiz Gustavo, num doloroso papel de galã - um cidadão para quem nada parece dar certo e cuja sorte parece mudar depois que, por engano, ele é nomeado procurador da dona de um império industrial. Firmino deveria ser um tipo cômico, meio atrapalhado, surpreso diante do que lhe acontece, mas Gustavo erra na dosagem de estupidez que imprime ao personagem. O resultado é um sujeito tão idiota, mas tão idiota que não se acredita que ele possa existir. Nem mesmo numa novela.

Bons amigos - Nas cenas em que aparece outra dupla de personagens principais, José Maria (Marcelo Picchi) e José Luis (Miguel Falabella), Mico Preto se revela apenas chula e de mau gosto. Os dois personagens são homossexuais, e as cenas que decorrem dessa característica resvalam para o mais rasteiro teatro de revista. José Luis vive fugindo do assédio de uma pretendente, que, para convencer o público de sua falta de percepção, deveria ser cega, surda e muda - um QI de 20 pontos talvez também ajudasse. José Maria é deputado, quer concorrer ao governo do Estado e, para manter as aparências, contrata um casamento com Sarita. Em alguns momentos, sugere-se que José Maria e José Luis são mais que bons amigos. Pode-se apostar que cenas como essas não representam exatamente o que muitos pais de família brasileiros gostariam de apresentar aos seus filhos às 7 horas da noite.
Em televisão, costuma-se dizer que uma boa telenovela consegue agradar até mesmo quando o elenco é ruim. Da mesma forma, diz-se que o inverso não ocorre, ou seja, que uma história fraca não segura o espectador mesmo que à frente dela estejam os melhores atores do mundo. No caso de Mico Preto, ocorre a rara coincidência de história destrambelhada com elenco mal escalado. O espectador não é atraído  pela aventura que se conta - um requentado chocho das incontáveis tramas envolvendo disputas empresariais implausíveis - nem pela forma como ela é contada. Há uma exceção: a atriz Geórgia Gomide, no papel de mãe de Sarita, tem boas tiradas. A astúcia e a falta de escrúpulos de seu personagem - batizado com o sugestivo nome de Herotildes - são exploradas à maneira divertida. À parte os momentos em que ela aparece, no entanto, a novela afunda no desinteresse e na gratuidade, resumidos pelo macaquinho usado nas vinhetas de abertura e encerramento desse desastre todo.


Fontes: VEJA. 06 de junho de 1990.
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Espero que gostem.
ME

Um comentário:

  1. Escroto (a) Preconceituoso (a) o (a) Jornalista que ecreveu esse comentário na hora que citou o relacionamento Homossexual,mal sabia,imaginava ele (a) que 30 anos depois esse tipo de abordagem, seria natural e lugar comum na novelas da Globo( e também de outras emissoras)e não só no horário das 7 como os demais também, tomem papudos, chupa essa uva Troxolatras!!!!

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