quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Triângulo central de "Joia Rara" lembra trama de "Cordel Encantado" e causa sensação de déjà vu


"Joia Rara" é uma novela que prima pela qualidade. Tanto no elenco escalado, quanto no figurino e na cidade cenográfica rica em detalhes. Entretanto, amarga uma baixa audiência, que ficou ainda pior depois do horário de verão. E a história de Duca Rachid e Thelma Guedes é repleta de clichês, que costumam agradar o público do horário. Ou seja, teoricamente, apesar do ibope muito aquém do desejado, a trama não apresenta grandes defeitos. Porém, o núcleo principal começou a apresentar situações que incomodam devido à semelhança com "Cordel Encantado", obra de sucesso escrita pelas mesmas autoras.

Manfred (Carmo Dalla Vechia), filho bastardo de Ernest Hauser (José de Abreu), sempre invejou Franz (Bruno Gagliasso) e fez de tudo para prejudicar o irmão, inclusive atrapalhar sua relação com Amélia (Bianca Bin). O rapaz também não se conforma com a rejeição do pai, que o humilha constantemente e o trata como um mero empregado. A história do vilão sempre foi voltada para esse universo desde o início da novela. No entanto, recentemente, houve uma virada na trama e o antagonista foi o principal alvo da nova fase.

O filho de Gertrude (Ana Lucia Torre) começou a nutrir uma obsessão por Amélia. Após se declarar para a mulher de Franz, tentou beijá-la a força e surtou depois de ser rejeitado por ela. O personagem ---- após ser desmascarado pelo mocinho, que finalmente descobriu a falsidade do vilão ----- se transformou
e revelou um lado doentio que estava escondido até então. Manfred tentou até matar seu 'rival' atropelado e jurou que não mediria esforços para conseguir o amor da mãe de Pérola (Mel Maia). Ele ainda mandou sequestrar o mocinho, com o intuito de eliminá-lo do seu caminho. O plano fracassou, mas o rapaz prometeu não desistir enquanto não tirar o rival de seu caminho.

Ao analisar essa situação, fica impossível não lembrar do triângulo central de "Cordel Encantado". Afinal, a obsessão de Timóteo por Açucena foi aumentando ao longo dos capítulos da novela e chegou em um nível de psicopatia assustador. Ela, por sua vez, sempre rejeitava o vilão e fazia questão de ficar nos braços de Jesuíno (Cauã Reymond), seu grande amor. Para destruir o casal e obrigar a mocinha a ficar com ele, o antagonista costumava sequestrá-la, o que acabou virando um círculo vicioso na novela ---- por várias vezes o telespectador via a sequência: sequestro - resgate - beijo - sequestro - resgate- beijo.

E para aumentar ainda mais as comparações entre as obras, praticamente todos os atores são os mesmos. Em "Joia Rara", Bianca Bin novamente vive a mocinha; Bruno Gagliasso que antes era o vilão, agora é o mocinho; e Carmo Dalla Vechia, que antes era o Rei Augusto, pai de Açucena, virou o psicopata obcecado pela mulher do protagonista. Para culminar, Franz é irmão da sofredora Hilda, interpretada por Luiza Valdetaro, que, curiosamente, vivia a irmã sofredora de Timóteo, também vivido por Gagliasso em "Cordel Encantado". Vale lembrar ainda que Domingos Montagner atualmente interpreta o revolucionário Mundo, irmão de Amélia; sendo que o ator vivia o Capitão Herculano, pai de Jesuíno e sogro de Açucena. Ou seja, um conjunto que cheira a déjà vu, apesar do bom desempenho do elenco.

Nada contra os autores terem sua panelinha de atores prediletos, afinal, nada mais compreensível do que querer trabalhar com um grupo que deu certo em outras produções. Aliás, esse tipo de atitude acaba valorizando profissionais talentosos que não são tão visados pela mídia. Ana Cecília Costa, por exemplo, é uma grande atriz, que só tem sido valorizada por Duca Rachid e Thelma Guedes, e está emocionando na pele da sofrida Gaia. Porém, é preciso haver um equilíbrio.

No caso da atual novela das seis, os atores, além de terem sido escalados para interpretar perfis que começaram a protagonizar situações semelhantes aos da trama anterior, ainda foram inseridos no mesmo núcleo. Uma soma de fatores que expõe a falta de criatividade das autoras. E autoras que ainda não podem se dar ao luxo de cair na repetição, uma vez que têm apenas três obras no currículo: "O Profeta", "Cama de Gato" e "Cordel Encantado" ----- três novelas de sucesso, vale ressaltar.

"Joia Rara" é uma novela bem produzida e tem uma qualidade inquestionável, entretanto, a trama central começou a cair na mesmice e provocar comparações inevitáveis com a história de "Cordel Encantado". Duca Rachid e Thelma Guedes são ótimas autoras e têm competência para ao menos tentar suavizar as semelhanças entre o atual trabalho delas e o exibido em 2011. Porque se a trama envolvendo Manfred-Franz-Amélia continuar sendo conduzida dessa forma, será difícil o telespectador não se cansar.

De Olho Nos Detalhes

Espero que gostem
ME

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