quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Perfil do Autor: Lauro César Muniz



Lauro César Muniz pode ser chamado de polêmico. Sua saída da Globo, no início da década de 2000, causou balbúrdia. Assim como sua recente saída da Record, depois dos problemas enfrentados com a novela “Máscaras”. Se na Globo, Lauro estava incomodado com o frio da geladeira a que foi submetido, na Record ele acabou chamuscado pela crise por qual passa a Teledramaturgia da emissora.

Mas crise nem é novidade para o novelista. Sua novela “Os Gigantes”, de 1979, naufragou de tal maneira que ele foi afastado da Globo na época. Lembro-me quando passou “Os Gigantes”, era criança, mas não acompanhava. Lembro de algumas cenas esparsas e da abertura, muito interessante, com Dina Sfat e uma pomba.

Meu primeiro registro de Lauro é de “Escalada”, em 1975. Meus pais gostavam muito dessa novela. Como eu era muito criança, eles até permitiam que eu assistisse, por eu não entender direito a história. Lembro perfeitamente de Tarcísio Meira, Susana Vieira, Ney Latorraca, Otávio Augusto, Lutero Luiz, Nathalia Timberg, Mllton Moraes. Do último capítulo, ficou gravada em minha memória a briga entre os personagens de Tarcísio (Antônio Dias) e Milton (Armando), já envelhecidos. Havia também Renée de Vielmond, que, por um tempo, eu achei que fosse Nívea Maria na novela (rs). Confusão de criança!

“Escalada” foi a primeira novela de Lauro no horário nobre global. Ele vinha do sucesso da romântica “Carinhoso”, com Regina Duarte, às sete horas. Vi “Carinhoso” numa reprise. Lauro escreveu também para este horário “Corrida do Ouro”, em parceria com Gilberto Braga. Desta, eu lembro muito vagamente da abertura, um desenho animado.

Lauro fora contratado pela Globo após o sucesso de duas novelas na Record: “As Pupilas do Senhor Reitor” e “Os Deuses Estão Mortos” (e sua continuação, “Quarenta Anos Depois“), no início da década de 1970. “As Pupilas” ganhou um belo remake produzido pelo SBT, na década de 1990. Anteriormente, o novelista tivera passagens pelas TVs Excelsior e Tupi. Já na década de 1960, Lauro era um dramaturgo reconhecido e premiado – pela sua peça “O Santo Milagroso”, que inclusive ganhou uma versão cinematográfica.

Lauro César Muniz nasceu em Ribeiro Preto, interior de São Paulo, em 16 de janeiro de 1938. Ele completa 76 anos nesta quinta-feira, razão deste post-perfil-homenagem. Dois de seus trabalhos mais interessantes, eu não pude acompanhar: as novelas “O Casarão”, de 1976, e “Espelho Mágico”, de 1977. “O Casarão” foi elogiadíssima pela crítica, mas não tão bem recebida pelo grande público. Nesta novela, o autor brincou com a linearidade da história: a trama se passava simultaneamente em três épocas diferentes.

Em “Espelho Mágico”, Lauro ousou revelar os segredos dos bastidores da classe artística, quebrando assim, para o público, o encanto da fantasia, descortinando o palco e revelando a coxia – o teatro era representado na história, juntamente com o cinema, a TV e o circo. “Espelho Mágico” só despertava interesse do telespectador quando dava lugar à fantasia, através da novela “Coquetel de Amor” – a novela dentro da novela!

Depois de “Os Gigantes”, Lauro acabaria por retornar à Globo ainda nos anos 1980. “Transas e Caretas” (1984) e “Um Sonho a Mais” (1985, como supervisor de texto) foram experiências válidas às sete horas. Mas considero “Roda de Fogo” (1986-1987) e “O Salvador da Pátria”, duas das melhores novelas daquela década. Renato Villar (Tarcísio Meira em “Roda de Fogo”) e Sassá Mutema (Lima Duarte em “O Salvador da Pátria”) são personagens que marcaram a carreira de seus intérpretes. Como esquecer as caretas de Renato Villar quando ele sentia as fortes dores de cabeça? Ou o bordão “I eu?!” de Sassá Mutema?

A partir da década de 1990, vimos Lauro na Globo colaborando em alguns trabalhos de outros autores, ora atuando como coautor, ora como supervisor de texto (“Araponga”, “Perigosas Peruas”, “Sonho Meu”, “Quem é Você”). Suas únicas produções originais foram: a novela “Zazá” (1997, “cadê zazá, zazá, zazáááá?“) e as minisséries “Chiquinha Gonzaga” (1999) e “Aquarela do Brasil” (2000). Na Record, Lauro brindou seus fãs com dois ótimos trabalhos: as novelas “Cidadão Brasileiro” (2006, um remake“disfarçado” de “Escalada”) e “Poder Paralelo” (2009-2010).

Gosto muito do trabalho de Lauro César Muniz, é um dos meus novelistas preferidos. Admiro o homem pelo seu talento e genialidade, de obras tão maravilhosas, e pelo caráter e bravura em deixar claro abertamente suas opiniões, assumindo erros, apontando defeitos e sinalizando caminhos. E concordo com ele: as novelas têm que ser mais curtas mesmo. Parabéns Lauro!

Fonte: Coluna do Nilson Xavier

Espero que gostem.
ME

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